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Picos da Europa: a saga dos empenos ou crash course em montanha

"Estive a fazer contas, e devo ter estado cá há uns 24 ou 25 anos" digo eu, numa subida do demo, agarrada aos calhaus, já no 3.º dia de árduas caminhadas nos Picos da Europa.

Devia ter uns 18 anos quando, ainda caminheira, fizemos uma viagem aos Picos da Europa nos escuteiros, recordo-me de algumas coisas: de ter de comprar umas botas novas porque as que levei "faleceram" nos Lagos de Covadonga, de comer leite condensado de bisnaga, da sidra, da Ruta del Cares e termos trocado as chaves das carrinhas com o outro grupo a meio do caminho e, no final, da frustração de não termos subido no teleférico de Fuente Dé porque o nevoeiro era mais do que muito e a visibilidade era nula.

Desta experiência ficou sempre a vontade de voltar...este foi o ano!

Com as várias provas canceladas, e as férias alteradas por essa via, tínhamos uma semana em Setembro para usufruir da montanha, durante bastante tempo andámos hesitantes entre Gredos e Picos, mas a ida aos Picos acabou por tomar forma. Apesar de alguma pesquisa, mais ao nível de trilhos a percorrer, não tínhamos tido tempo para preparar a viagem como gostaríamos, mas na verdade, se calhar foi por isso que a viagem correu tão bem, porque pudemos ir ajustando o plano consoante as sugestões que nos foram sendo feitas. Há ainda que salvaguardar que não corro desde Março, que os treinos foram retomados muito recentemente após lesões e recuperação da queda com a bike de estrada.

Partimos sexta de Lisboa, mas rumo ao Porto para estar com amigos e foi mesmo bom! De lá partimos muito cedo no domingo, via Galiza, com um desvio a Finisterra. Chegámos a Cabrales ao final da tarde, a tempo de deixar as coisas onde íamos pernoitar e arranjar um sítio para jantar. Foi nessa altura que percebemos que não eramos os únicos portugueses que correm em Monsanto naquela hora a que se chama do Esquilo que por lá andavam :-)

Segunda-feira iriamos partir de Poncebos em direção a Bulnes e tendo como ponto mais alto a base do Pico Urriellu AKA Naranjo de Bulnes. Quem é que encontramos quando começamos a nossa caminhada? Pois, os nossos amigos esquilos que nos acompanharam até Bulnes, na verdade, se tivéssemos combinado não íamos estar lá à mesma hora :-) Nós parámos para um café e uns bocadillos para levar e eles seguiram. A nossa ideia para aquele dia, digamos que parva, era subir via PR19 e descer via PR18 (Refugio Jou de los Cabrones), valeu-nos o engano! Godness Gracious! Acabámos a subir via Collado de Pandébano em direção ao Refugio de la Trenosa.


Depois da bela Coca-cola seguimos em direção ao Urriellu. Num caminho panorâmico fantástico...

...após a curva onde esta foto foi tirada o caminho alterava-se drasticamente, e passou a ser mais exigente fisicamente, apesar da dificuldade técnica não ser por aí além. Mas, era precisa alguma força para afastar as pedras do caminho :-D


Após alcançarmos o Refúgio do Urriellu, e enquanto tentávamos beber um cacau escaldante, o céu brindou-nos com uma chuvada, pelo que não demorámos a pôr-nos a caminho, aqui já havíamos desistido de tentar alcançar o Refugio seguinte e descer o PR18, optando antes por descer o que erámos para ter subido, o PR19... esperava-nos uma bela jornada, dura, desafiante, mas muito bela. Tivemos bodes furiosos perto de uma ravina que tivemos de descer sem "rede" (ver a 2.ª foto do lote de fotos seguintes), uma cascalheira longa e muito inclinada, descidas brutais em relva e pedra junto a riachos, uma via ferrata, e sempre, paisagens deslumbrantes!







Para a destreinada, foi um mega empeno, mas uma fantástica surpresa pela forma como o corpo respondeu, sem dores, apenas cansaço. Foram mais de 27kms com 1952mD+.

À noite estava morta, um suplício sair para jantar, ainda para mais fomos brindados com uma chuvada em grande acompanhada trovoadas. Prometia.

Na manhã seguinte, cedinho o David, um amigo que mora a 1h30 dos Picos, vinha buscar o João para uma caminhada, optei por não me juntar a eles porque precisava mesmo de descansar. Fui buscá-los mais tarde ao vilarejo de La Hermida e fomos almoçar perto de Potes.


De lá seguimos em direção a Fuente Dé, e foi mais forte que nós... lá nos metemos a subir pelo km vertical que sai de Fuente Dé em direção a El Portal. Decidimos inverter às 18h, na pratica fizemos pouco mais de 5kms com 500mD+, mas valeu mesmo a pena!




Era hora de rumar a Posada de Valdéon, o nosso próximo destino, íamos ainda ter um valente esticão de carro, mas conseguimos chegar antes de a noite se tornar escura.

Como ainda não tínhamos decidido exatamente o trilho que íamos fazer, ao almoço o David tinha-nos sugerido seguirmos um track para o Collado Jermoso em circuito, mas não tínhamos noção do que nos esperava :-)

Lá seguimos de carro para Cordiñanes, onde regressaríamos ao final da tarde, dali até ao Refugio eram 4kms, mas foram os 4kms mais longos da minha vida :-D :-D :-D


O trilho (PR16) em menos de nada tornava-se bastante técnico, um single track pedregoso com uma ravina de altura crescente do lado esquerdo, onde a certa altura existiam correntes para ajudar a transpôr o trilho, com as pernas ainda empenadas, o caminho foi sendo feito com calma.


O trilho atravessava um bosque de faias lindíssimo, só deixou de ser tão lindinho quando ouvimos um grunhido que não entendemos se era um homem com um valente catarro ou se tínhamos um urso atrás de nós... toca a mexer as perninhas rapidinho! Não íamos querer descobrir...


Continuamos a subir até chegar a um vale fabuloso, Vega de Asotín, local onde regressaríamos horas depois e onde se concluiria a circular ao Collado Jermoso.



Se até aqui a subida tinha sido técnica, a partir daqui então o divertimento começava, se tivéssemos feito pesquisa, teríamos percebido que este PR era de alta montanha com bastantes passos perigosos e escalada (sem cordas ou correntes)! Na verdade, com calma e atenção, a subida ia-se fazendo.


Após comer uma parte da sandocha de manteiga de amendoim nesta vista fabulosa, seguimos o nosso longo caminho em direção ao Refugio. 


Sim, era por aqui... e esta parte era fácil :-) Já quase com o Refúgio em vista, o calor e a fome fizeram-me quase entrar em desespero, numa antecipação de sofrimento que passava em loop nos meus pensamentos, foi precisa calma e muito "Saaaaaal grosseeeeeeee" 


A descida já se fez com outra disposição, após o reabastecimento de cafeína e açúcares no abrigo. O trilho era "fácil", se é que se pode chamar fácil quando inclui descer uma cascalheira com uns 2kms, mas quando se adora pedra, a coisa encara-se de outra forma!




Terminámos com 17,3km e 1586mD+.

Para último dia inteiro nos Picos decidimos turistar um bocadinho, e como estavamos pertíssimo de Cain, nada como ir esticar as pernas e limpar o empeno para a Ruta del Cares.

Começámos por descobrir um sítio fantástico para um cafézinho pré caminhada, o Lola Cain (@barlolacain no instagram), com uma esplanada com muito bom gosto e uma vista maravilhosa!


A Ruta não era novidade para nenhum de nós, por isso, nunca tinha estado em cima da mesa, eu tinha-a percorrido a pé com os escuteiros e o João tinha-a percorrido de BTT com o Pedro.



Em resumo, foram 9,85kms e 137mD+. E caminhar abre o apetite, ah pois abre, por isso, e tendo em conta as alternativas que tínhamos à volta, optámos por regressar ao Lola, e que bem escolhido! Comemos e bebemos bem, apreciámos as vistas, tanto que nem nos queríamos levantar para ir embora :-D


Na verdade, o que é bom acaba depressa, e o que é muito bom mais depressa ainda!

Ficam de fora os vídeos fantásticos, mas fica a promessa de que se conseguir fazer uma montagem decente um destes dias, partilho :-)

💚 Por mais semanas como esta 💚

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